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Novo colapso silencioso das organizações modernas
Publicado 24/10/2025 • 16:45 | Atualizado há 8 horas
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Publicado 24/10/2025 • 16:45 | Atualizado há 8 horas
Pexels
Cansaço
As empresas modernas não estão ruindo por falta de iniciativa. Estão cedendo pelo excesso de transformação. Cada nova agenda chega carregada de promessas — e sai deixando um rastro de exaustão.
O colapso organizacional de hoje não vem com sirenes: ele se infiltra. Não é o colapso da estrutura. É o da atenção, da confiança e do sentido. É o colapso que não faz barulho — mas consome tudo por dentro.
A liderança executiva do século XXI opera sob pressão constante para reinventar tudo, o tempo todo. A cada semestre surge um novo programa — “Transformação Digital 2.0”, “Next Wave”, “AI First”, “Reboot 2030”. O problema? Nenhum deles tem tempo de respirar.
Vivemos um paradoxo operacional: quanto mais se muda, menos se transforma de verdade. Projetos são empilhados, sem tempo de metabolização simbólica, emocional ou operacional. As equipes participam, mas não se conectam. Entregam, mas não acreditam. O excesso de ação — sem espaço para pensamento estratégico — esvazia a própria ideia de transformação.
Em 2024, conceituei a Cultura do Excesso para nomear aquilo que já víamos nos bastidores: um ambiente em que o volume de iniciativas, reuniões e métricas substitui a substância.
Não se trata apenas de fazer demais. Trata-se de perder o porquê do que se faz. Nessa cultura, o fazer ocupa o lugar do pensar. O imediatismo toma o lugar da estratégia. E a visibilidade passa por valor. As empresas se tornam máquinas de movimento contínuo, mas de construção frágil.
A hiperprodutividade improdutiva virou norma: todos agem, poucos refletem. Executivos sobrecarregam suas agendas como se isso fosse sinônimo de relevância, enquanto o que realmente importa — direção, foco, valor real — se dilui.
Não é mais possível ignorar o cansaço sistêmico nas empresas. A fadiga transformacional é real — e corrosiva. Ela nasce do acúmulo de promessas não sustentadas, da troca constante de narrativas e da distância crescente entre discurso e prática.
Os colaboradores já não resistem. Apenas se desconectam. O cumprimento protocolar virou modo padrão: executa-se o mínimo necessário, sem energia simbólica, sem pertencimento. O sistema segue funcionando — mas por inércia, não por vitalidade.
No nível executivo, vivemos um apagão silencioso: o colapso da atenção. E-mails, dashboards, reuniões, ferramentas de gestão, mensagens instantâneas — tudo compete pelo mesmo recurso escasso: foco.
Como líderes, temos nos acostumado a operar em ambiente de ruído permanente. Mas esse ambiente rouba da organização sua maior capacidade: a de pensar com profundidade. Metade dos profissionais já define seu trabalho como “caótico e fragmentado”. E 48% relatam exaustão crônica ou burnout.
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O custo disso? Perdemos discernimento. A empresa segue operando — mas sem direção clara, sem tempo para digestão estratégica e sem capacidade de distinguir o que é urgente do que é essencial.
As grandes empresas vivem hoje um paradoxo operacional: todos os projetos são prioritários — e, por isso, nenhum amadurece. Transformação digital, ESG, IA generativa, experiência do cliente, cultura, governança, supply chain... tudo é estratégico. Mas tudo ao mesmo tempo é inviável.
O resultado é previsível: sobreposição, neutralização, esvaziamento. E um acúmulo tóxico de resíduo simbólico — frustrações, cinismo, descrédito coletivo.
Segundo o Boston Consulting Group, apenas 1 em cada 4 grandes transformações gera valor sustentável. Ou seja, 75% falham ou morrem antes de consolidar resultados. O ciclo se repete: entusiasmo → cansaço → descrédito → nova agenda. E o colapso, mais uma vez, sem ruído.
No topo da organização, aprendemos que o mais difícil não é começar algo novo — é parar o que não precisa continuar. Estudos recentes da Harvard Business Review chamam isso de “simplicidade corajosa”.
Simplicidade não é superficialidade. É foco. É ter clareza sobre o que precisa ser feito — e coragem de abandonar o que só ocupa espaço. As empresas que conseguem reduzir o ruído estratégico e concentrar esforços em poucas iniciativas de alto impacto colhem três recompensas:
· mais velocidade,
· mais engajamento,
· mais resultado.
Não se trata de fazer menos. Trata-se de fazer o que realmente transforma.
O colapso das organizações modernas é silencioso porque ele não explode — ele dissolve. E, justamente por isso, é mais perigoso.
Como líderes, não precisamos de mais movimento. Precisamos de mais pausa consciente. Não é hora de lançar a próxima transformação. É hora de sustentar a última até que ela gere sentido real.
Recuperar o silêncio — como espaço de escuta, escolha e elaboração — não é passividade. É decisão executiva. É o gesto mais estratégico que uma liderança pode fazer hoje. Porque, quando o ruído cessa, o pensamento volta. E é só então que o futuro começa.
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