CNBC

CNBCTrump encerra todas as negociações comerciais com o Canadá após anúncio publicitário com Reagan sobre tarifas

Vida nas organizações Joaquim Santini

Novo colapso silencioso das organizações modernas

Publicado 24/10/2025 • 16:45 | Atualizado há 8 horas

Foto de Joaquim Santini

Joaquim Santini

Pesquisador e palestrante internacional, diplomado em Psicologia Clínica Organizacional e mestre em Consulting and Coaching for Change no Insead ( european business school, na França), graduado e mestre em Engenharia Mecânica pela Unicamp. Fundador da EXO - Excelência Organizacional.

Pexels

Cansaço

As empresas modernas não estão ruindo por falta de iniciativa. Estão cedendo pelo excesso de transformação. Cada nova agenda chega carregada de promessas — e sai deixando um rastro de exaustão.

O colapso organizacional de hoje não vem com sirenes: ele se infiltra. Não é o colapso da estrutura. É o da atenção, da confiança e do sentido. É o colapso que não faz barulho — mas consome tudo por dentro.

1. Quando a transformação se torna rotina e o colapso, invisível

A liderança executiva do século XXI opera sob pressão constante para reinventar tudo, o tempo todo. A cada semestre surge um novo programa — “Transformação Digital 2.0”, “Next Wave”, “AI First”, “Reboot 2030”. O problema? Nenhum deles tem tempo de respirar.

Vivemos um paradoxo operacional: quanto mais se muda, menos se transforma de verdade. Projetos são empilhados, sem tempo de metabolização simbólica, emocional ou operacional. As equipes participam, mas não se conectam. Entregam, mas não acreditam. O excesso de ação — sem espaço para pensamento estratégico — esvazia a própria ideia de transformação.

2. A cultura do excesso: conceito, origem e sentido

Em 2024, conceituei a Cultura do Excesso para nomear aquilo que já víamos nos bastidores: um ambiente em que o volume de iniciativas, reuniões e métricas substitui a substância.

Não se trata apenas de fazer demais. Trata-se de perder o porquê do que se faz. Nessa cultura, o fazer ocupa o lugar do pensar. O imediatismo toma o lugar da estratégia. E a visibilidade passa por valor. As empresas se tornam máquinas de movimento contínuo, mas de construção frágil.

A hiperprodutividade improdutiva virou norma: todos agem, poucos refletem. Executivos sobrecarregam suas agendas como se isso fosse sinônimo de relevância, enquanto o que realmente importa — direção, foco, valor real — se dilui.

3. A fadiga transformacional e o descrédito coletivo

Não é mais possível ignorar o cansaço sistêmico nas empresas. A fadiga transformacional é real — e corrosiva. Ela nasce do acúmulo de promessas não sustentadas, da troca constante de narrativas e da distância crescente entre discurso e prática.

Os colaboradores já não resistem. Apenas se desconectam. O cumprimento protocolar virou modo padrão: executa-se o mínimo necessário, sem energia simbólica, sem pertencimento. O sistema segue funcionando — mas por inércia, não por vitalidade.

4. O colapso cognitivo e a escassez de atenção

No nível executivo, vivemos um apagão silencioso: o colapso da atenção. E-mails, dashboards, reuniões, ferramentas de gestão, mensagens instantâneas — tudo compete pelo mesmo recurso escasso: foco.

Como líderes, temos nos acostumado a operar em ambiente de ruído permanente. Mas esse ambiente rouba da organização sua maior capacidade: a de pensar com profundidade. Metade dos profissionais já define seu trabalho como “caótico e fragmentado”. E 48% relatam exaustão crônica ou burnout.

Leia mais artigos desta coluna aqui

O custo disso? Perdemos discernimento. A empresa segue operando — mas sem direção clara, sem tempo para digestão estratégica e sem capacidade de distinguir o que é urgente do que é essencial.

5. O paradoxo dos projetos simultâneos

As grandes empresas vivem hoje um paradoxo operacional: todos os projetos são prioritários — e, por isso, nenhum amadurece. Transformação digital, ESG, IA generativa, experiência do cliente, cultura, governança, supply chain... tudo é estratégico. Mas tudo ao mesmo tempo é inviável.

O resultado é previsível: sobreposição, neutralização, esvaziamento. E um acúmulo tóxico de resíduo simbólico — frustrações, cinismo, descrédito coletivo.

Segundo o Boston Consulting Group, apenas 1 em cada 4 grandes transformações gera valor sustentável. Ou seja, 75% falham ou morrem antes de consolidar resultados. O ciclo se repete: entusiasmo → cansaço → descrédito → nova agenda. E o colapso, mais uma vez, sem ruído.

6. A coragem da simplicidade

No topo da organização, aprendemos que o mais difícil não é começar algo novo — é parar o que não precisa continuar. Estudos recentes da Harvard Business Review chamam isso de “simplicidade corajosa”.

Simplicidade não é superficialidade. É foco. É ter clareza sobre o que precisa ser feito — e coragem de abandonar o que só ocupa espaço. As empresas que conseguem reduzir o ruído estratégico e concentrar esforços em poucas iniciativas de alto impacto colhem três recompensas:

· mais velocidade,
· mais engajamento,
· mais resultado.

Não se trata de fazer menos. Trata-se de fazer o que realmente transforma.

7. Conclusão: o silêncio como decisão estratégica

O colapso das organizações modernas é silencioso porque ele não explode — ele dissolve. E, justamente por isso, é mais perigoso.

Como líderes, não precisamos de mais movimento. Precisamos de mais pausa consciente. Não é hora de lançar a próxima transformação. É hora de sustentar a última até que ela gere sentido real.

Recuperar o silêncio — como espaço de escuta, escolha e elaboração — não é passividade. É decisão executiva. É o gesto mais estratégico que uma liderança pode fazer hoje. Porque, quando o ruído cessa, o pensamento volta. E é só então que o futuro começa.

--

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC no

MAIS EM Joaquim Santini

;