O que um corte nas compras de petróleo bruto russo pela Reliance significaria para a Índia

A Reliance Industries, maior refinaria de petróleo privada da Índia, estaria suspendendo as compras de petróleo bruto russo, após a decisão dos EUA de sancionar as duas maiores empresas petrolíferas da Rússia, Rosneft e Lukoil.

A Reliance se tornou uma grande compradora de petróleo bruto russo. Em setembro, ela comprou cerca de 629.590 barris de petróleo bruto russo por dia das duas firmas, de um total de importações da Índia de 1,6 milhão de barris por dia, de acordo com dados da firma de análise de dados de commodities Kpler.

No mesmo mês do ano passado, a Reliance comprou cerca de 428.000 barris de petróleo por dia das empresas russas.

De fato, as importações de petróleo bruto russo da Índia costumavam representar menos de 3% de sua cesta total de importação de petróleo bruto, mas hoje representam um terço das importações de petróleo bruto da Índia, dizem especialistas.

A Reliance não respondeu aos pedidos de comentário da CNBC sobre os relatos de que está interrompendo a compra de petróleo bruto russo.

A notícia surge no momento em que o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções na quarta-feira à Rosneft e à Lukoil, citando a “falta de compromisso sério” de Moscou para acabar com a guerra na Ucrânia. As sanções visam “degradar” a capacidade do Kremlin de financiar sua guerra, disse o departamento dos EUA, sinalizando que mais medidas podem se seguir.

Se a Reliance de fato suspender as compras russas, isso terá “impactos negativos na margem e lucratividade [da Reliance], já que o petróleo bruto russo constitui mais de 50% de sua ‘dieta de petróleo bruto’”, disse Pankaj Srivastava, SVP de mercados de commodities de petróleo na firma de pesquisa de mercado Rystad Energy, em comentários enviados por e-mail.

Ele acrescentou que a disponibilidade de “petróleo bruto semelhante não é um problema” e pode ser obtido no Oeste da Ásia, Brasil ou Guiana, mas é improvável que a Reliance consiga o mesmo preço que obtém no petróleo bruto russo, já que tem acordos de longo prazo com fornecedores como a Rosneft.

Em dezembro passado, a Reliance Industries assinou um acordo para importar petróleo bruto no valor de US$ 12 bilhões a US$ 13 bilhões por ano da Rosneft da Rússia por 10 anos, o que se traduziria em aproximadamente 500.000 barris por dia, de acordo com um relatório da Reuters.

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‘Compra oportunista’

A compra de petróleo russo por refinarias indianas foi uma “compra oportunista” impulsionada por descontos em comparação com graus comparáveis, disse Vandana Hari, da Vanda Insights.

A Índia comprou 38% das exportações de petróleo bruto da Rússia em setembro, perdendo apenas para a China, com 47%, de acordo com o think tank Centre for Energy and Clean Air, sediado em Helsinque. Hari acrescentou que as refinarias indianas podem facilmente pivotar para comprar de outras fontes, sendo a desvantagem a “pressão nas margens de refino.”

Muyu Xu, analista sênior de petróleo bruto da Kpler, disse que a gigante de refino indiana pode enfrentar alguns problemas de curto prazo ao tentar substituir o petróleo bruto russo.

“Dados os grandes volumes sob o acordo Reliance-Rosneft, esperamos algum atrito de curto prazo para a Reliance em garantir barris de substituição”, diz Muyu Xu, analista sênior de petróleo bruto da Kpler.

Ela acrescentou que o Urals (petróleo bruto de médio teor de enxofre) da Rússia permanece cerca de US$ 5 a US$ 6/barril mais barato do que o petróleo bruto do Oriente Médio de qualidade semelhante.

Um relatório da Jefferies no mês passado indicou que o impacto da Reliance Industries se afastando do petróleo russo era “administrável.”

A corretora disse em setembro que havia recebido consultas de investidores sobre o possível impacto financeiro na Reliance se ela suspendesse suas importações de petróleo russo devido às sanções.

O benefício do petróleo bruto russo representa cerca de 2,1% do EBITDA consolidado estimado da firma de 2,05 trilhões de rúpias (US$ 22,8 bilhões) para o ano fiscal de 2027, disse a corretora.

O EBITDA consolidado da Reliance para os seis meses do ano fiscal de 2026 foi de 1,08 trilhão de rúpias indianas (US$ 12,3 bilhões), das quais 295 bilhões de rúpias vieram de seu segmento de petróleo para produtos químicos, enquanto seus empreendimentos de telecomunicações e varejo juntos contribuíram com quase 500 bilhões de rúpias.

Esperanças de um acordo comercial com os EUA

Outras refinarias indianas também estão buscando cortar as importações de petróleo russo. Desmamar (weaning off) do petróleo russo pode aumentar a conta de importação da Índia, mas não será “um choque de preço tão grande quanto poderia ter sido se o petróleo bruto estivesse na faixa de US$ 70 ou US$ 80”, disse Hari, da Vanda Insights.

Os contratos futuros de West Texas Intermediate dos EUA estavam sendo negociados em torno de US$ 61,83 por barril na sexta-feira.

Especialistas também dizem que os benefícios da Índia em reduzir as compras de petróleo russo superam as desvantagens.

De acordo com a Economista Sênior da Natixis, Trinh Nguyen, a arbitragem que o petróleo russo ofereceu durante a crise energética diminuiu (tapered off), e não há necessidade de a Índia ter compras significativas de petróleo russo agora.

A compra de petróleo bruto russo pela Índia tem sido um ponto sensível em suas relações comerciais com os EUA, o que culminou com a imposição de uma tarifa total de 50% pelos EUA sobre as mercadorias indianas exportadas para o país.

Com a expectativa de que refinarias estatais e privadas suspendam a compra de petróleo bruto russo — uma exigência de longa data do presidente dos EUA, Donald Trump — as chances de a Índia negociar um acordo comercial mutuamente benéfico com os EUA aumentaram.

Nathalia Fruchi

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