O presidente Donald Trump afirmou nesta quarta-feira (25) que os Estados Unidos terão conversas nucleares com o Irã na próxima semana, sugerindo a possibilidade de um acordo, mesmo após se gabar de que os recentes ataques dos EUA paralisaram o programa atômico da república islâmica.
Trump atribuiu os ataques sem precedentes dos EUA à “destruição total” das capacidades nucleares do Irã, e afirmou que isso atrasou o programa do país em “décadas”. No entanto, vazamentos de inteligência dos EUA levantaram dúvidas sobre essa avaliação, dizendo que os ataques provavelmente atrasaram Teerã por apenas alguns meses.
Conflito e intervenções militares
Antes do acordo de cessar-fogo na terça-feira (24), Israel havia bombardeado locais nucleares e militares iranianos durante 12 dias de guerra, enquanto o Irã lançava ondas de mísseis contra seu arquirrival regional em sua confrontação mais mortal de todos os tempos.
Os Estados Unidos se juntaram à briga em apoio a seu aliado, atingindo duas instalações nucleares com enormes bombas antibunker no fim de semana, enquanto um míssil guiado de um submarino atingiu uma terceira.
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“Eles não vão construir bombas por um bom tempo”, disse Trump, acrescentando que os ataques atrasaram o programa em “décadas” e que o cessar-fogo que ele declarou estava indo “muito bem”.
Mais tarde disse a repórteres que Israel e Irã estavam “ambos cansados, exaustos”, e continuou dizendo que as conversas estavam planejadas com o Irã “na próxima semana”. “Podemos assinar um acordo. Não sei”, acrescentou.
O presidente iraniano Masoud Pezeshkian havia dito na terça-feira (24) que seu país estava disposto a voltar às negociações sobre seu programa nuclear, mas que continuaria a “afirmar seus direitos legítimos” ao uso pacífico da energia atômica.
Ainda é cedo
O exército de Israel disse nesta quarta-feira (25) que “ainda é cedo” para avaliar os danos que a guerra causou ao programa nuclear do Irã.
“Acredito que demos um golpe significativo no programa nuclear, e também posso dizer que o atrasamos por vários anos”, disse o porta-voz militar israelense Effie Defrin.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, reconheceu à Al Jazeera que suas “instalações nucleares foram gravemente danificadas, isso é certo”.
Mas a mídia dos EUA informou na terça-feira (24) que pessoas familiarizadas com um relatório da Agência de Inteligência de Defesa disseram que os ataques americanos não eliminaram totalmente as centrífugas do Irã ou os estoques de urânio enriquecido.
Os ataques selaram entradas de algumas instalações sem destruir edifícios subterrâneos, de acordo com o relatório.
Israel havia dito que sua campanha de bombardeios, que começou em 13 de junho, visava impedir que o Irã adquirisse uma arma nuclear, uma ambição que Teerã sempre negou.
Seus comandos também operaram dentro do Irã durante o conflito, o chefe do exército de Israel reconheceu publicamente pela primeira vez na quarta-feira (25).
“As forças operaram em segredo em território inimigo e criaram liberdade operacional de ação para nós,” disse o chefe de gabinete Eyal Zamir em um discurso televisionado.
Mesma intensidade
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em um discurso à nação após o cessar-fogo, anunciou que “nós frustramos o projeto nuclear do Irã”.
“E se alguém no Irã tentar reconstruí-lo, agiremos com a mesma determinação, com a mesma intensidade, para frustrar qualquer tentativa,” disse ele.
Parlamentares iranianos na quarta-feira (25) votaram a favor de suspender a cooperação com o órgão de vigilância nuclear da ONU, informou a televisão estatal.
“A Agência Internacional de Energia Atômica, que se recusou a condenar, mesmo que marginalmente, o ataque às instalações nucleares do Irã, colocou sua credibilidade internacional em leilão,” disse o presidente do parlamento Mohammad Bagher Ghalibaf, de acordo com a emissora.
A decisão de suspender a cooperação com a AIEA ainda precisa da aprovação do Conselho Guardião, um órgão com poder para vetar legislação.
Em uma entrevista ao veículo de notícias Al Araby Al Jadeed, o ministro das Relações Exteriores Abbas Araghchi disse que o Irã permaneceu comprometido com o Tratado de Não Proliferação, mas que ele falhou em “nos proteger ou ao nosso programa nuclear”, acrescentando sem elaborar que a abordagem do Irã em relação ao regime “passará por mudanças”.
‘Finalmente, podemos dormir’
Enquanto Irã e Israel estão envolvidos em uma guerra às sombras há décadas, seu conflito de 12 dias foi de longe a confrontação mais destrutiva entre eles.
Os ataques israelenses atingiram alvos nucleares e militares – matando cientistas e figuras militares seniores – assim como áreas residenciais, provocando ondas de fogo de mísseis iranianos sobre Israel.
Teerã permaneceu relativamente quieta na quarta-feira (25), com muitas lojas ainda fechadas e apenas alguns restaurantes abertos, embora houvesse mais vida nas ruas do que durante o auge da guerra.
“Graças a Deus, a situação melhorou, o cessar-fogo foi alcançado, e as pessoas voltaram ao trabalho e às suas vidas,” disse um residente, um vendedor de 39 anos que se apresentou como Saeed.
No entanto, outros estavam incertos se a paz se manteria.
“Eu realmente não sei… sobre o cessar-fogo, mas honestamente, não acho que as coisas voltarão ao normal,” disse Amir, de 28 anos.
Alguns israelenses, por outro lado, saudaram a trégua.
“Finalmente, podemos dormir tranquilos. Nos sentimos melhor, menos preocupados, pelas crianças, pela família. E espero que continue assim,” disse Yossi Bin, um engenheiro de 45 anos em Tel Aviv.
Os ataques israelenses ao Irã mataram pelo menos 627 civis, de acordo com o ministério da saúde.
Os ataques do Irã a Israel mataram 28 pessoas, segundo dados israelenses.
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