Deutsche Bank registra salto de 39% no lucro e eleva provisões para crédito em meio à incerteza sobre tarifas dos EUA

Maior banco da Alemanha, o Deutsche Bank divulgou nesta terça-feira (29) um lucro no primeiro trimestre acima do esperado graças ao desempenho robusto do banco de investimento, mas aumentou as provisões para crédito à medida que os credores da maior economia da Europa enfrentam turbulência em meio às políticas tarifárias dos EUA.

O lucro líquido atribuível aos acionistas chegou a 1,775 bilhão de euros (US$ 2,019 bilhões) no primeiro trimestre, um aumento de 39% em relação ao ano anterior e acima das expectativas dos analistas, que giravam em torno de 1,64 bilhão de euros, segundo uma pesquisa da Reuters. O banco havia registrado lucro de 106 milhões de euros no quarto trimestre.

As receitas chegaram a 8,524 bilhões de euros no período, um aumento de 10% em relação ao ano anterior e acima dos 7,224 bilhões de euros registrados no quarto trimestre.

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Em um comunicado que acompanhou os resultados, o CEO Christian Sewing afirmou que os números “nos colocam no caminho certo para cumprir todas as nossas metas para 2025” e marcaram “nosso melhor lucro trimestral em quatorze anos.”

As ações do banco subiram 2,5% às 08:11, horário de Londres, logo após a abertura do mercado.

Outros destaques do quarto trimestre incluíram:

• Lucro antes dos impostos de 2,837 bilhões de euros, um aumento de 39% ano a ano.
• Índice de capital CET 1, uma medida de solvência bancária, foi de 13,8%, inalterado em relação ao quarto trimestre.
• Retorno pós-impostos sobre o patrimônio tangível (ROTE) de 11,9%, contra uma meta de 10% para 2025.
• Provisão para perdas com crédito foi de 471 milhões de euros, contra 420 milhões de euros no quarto trimestre, com o banco apontando “ajustes relacionados a incertezas no cenário geopolítico e macroeconômico nos EUA, junto com efeitos macroeconômicos e de portfólio do primeiro trimestre e mudanças de modelo.”

A divisão central de banco de investimento do credor registrou um aumento de 10% nas receitas líquidas em relação ao ano anterior, para 3,4 bilhões de euros no primeiro trimestre, com um crescimento de 17% na tradicionalmente forte unidade de renda fixa e câmbio (FIC), parcialmente compensado por uma queda de 8% em originação e consultoria.

As receitas líquidas da gestão de ativos cresceram 18%, chegando a 730 milhões de euros no primeiro trimestre.

O Deutsche Bank tem se apoiado em sua divisão de investimentos para compensar os ganhos decrescentes com empréstimos à medida que as taxas de juros caíram. As operações de banco de investimento do credor, base de seu crescimento, cresceram 30% ao ano para 2,4 bilhões de euros no quarto trimestre, e aumentaram 15% ano a ano, totalizando 10,6 bilhões de euros em todo o ano de 2024.

“Vemos impulso em todos os negócios, e acreditamos que isso continuará ao longo do ano. Também estamos mantendo disciplina de despesas, e superamos em ambas as frentes,” disse o diretor financeiro do Deutsche Bank, James von Moltke, à repórter Annette Weisbach da CNBC nesta terça-feira.

“Um conjunto geral sólido de resultados, mas talvez não tão forte quanto à primeira vista,” disseram analistas do Citi em nota, alertando que “as tendências das divisões centrais são mais mistas” e que a orientação para provisões “agora inclui uma ressalva para incerteza econômica.”

Impacto das políticas

Os bancos alemães tendem a se beneficiar à medida que o ambiente político do país se estabiliza sob a possível liderança de uma coalizão centrista comandada pela União Democrata Cristã (CDU) de Friedrich Merz, após a agitação no final de 2024 que culminou em eleições antecipadas no início deste ano.

Berlim desde então aprovou a reforma de sua política fiscal histórica com foco em maior gasto com defesa, alimentando expectativas de investimentos regionais fortalecidos e dando um impulso às ações alemãs.

“Estamos obviamente lidando com muita incerteza no lado das políticas no momento, mas também temos alguma certeza, por exemplo, sobre a receita líquida de juros,” disse von Moltke à CNBC, acrescentando que o Deutsche Bank havia protegido “quase todo” o risco de taxa de juros para 2025, o que o deixava confiante no desempenho futuro de sua unidade de banco de varejo.

“Vemos um impulso forte ali. Também acreditamos que o banco corporativo vai ganhar impulso à medida que o ano avança e algumas das mudanças políticas, particularmente na Alemanha, no lado fiscal, começam a se refletir em maior confiança,” afirmou.

“Na Alemanha, os mercados acionários estão realmente ficando mais fortes, sustentando a crença e a confiança dos investidores novamente na economia alemã e europeia e no novo governo e nas políticas que ele delineou,” afirmou o CEO do Deutsche Bank nas Américas, Stefan Simon, em entrevista à Bloomberg TV na semana passada. Ele observou que a competitividade europeia precisa ser “fortalecida” em meio a um alerta mais amplo para o continente, que atualmente lida com uma potencial guerra comercial sob o presidente dos EUA, Donald Trump.

Sob as mais recentes medidas protecionistas da Casa Branca, a União Europeia foi atingida com tarifas de 20%, embora atualmente essas estejam reduzidas para 10% até 9 de julho, para abrir caminho para novas negociações comerciais.

“É justo dizer que os EUA e as Américas são uma das principais regiões para o Deutsche Bank, especialmente em expectativas de crescimento,” afirmou Simon, acrescentando que o banco vê potencial de crescimento em negociação de crédito, taxas e no lado de fusões e aquisições das finanças corporativas.

Falando à CNBC em janeiro, von Moltke havia estimado que as operações do banco nos EUA representavam cerca de 20% dos seus negócios na época, ressaltando que suas operações na região ainda tinham espaço para “entregar e se concretizar no futuro.”

Nesta terça-feira, o CFO reconheceu a atual incerteza nos mercados financeiros como resultado das políticas tarifárias dos EUA, que beneficiaram as operações de negociação de FIC do banco — ao mesmo tempo em que impactaram suas orientações de provisões de crédito.

“Sobre as provisões para perdas de crédito, na verdade ficamos perto da nossa orientação,” disse ele com relação às exposições inadimplentes do banco. “O que fizemos, no entanto, foi incluir alguns ajustes para refletir o ambiente incomum em que estamos e realmente antecipar possíveis variações nas variáveis macroeconômicas. Achamos isso prudente e apropriado, mas onde vamos terminar o ano dependerá muito da direção macro.”

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