Em entrevista exclusiva ao Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, a economista-chefe da PwC, Dra. Alex Crow, ofereceu uma análise aprofundada sobre as variáveis que moldam o atual cenário econômico global. Ela destacou três grandes forças que estão guiando as decisões de executivos e investidores: a geopolítica, a transformação tecnológica e a evolução do mercado financeiro fora do sistema bancário tradicional.
Geopolítica em primeiro plano
“Geopolítica está de volta ao centro do palco”, afirmou Crow, referindo-se ao aumento do protecionismo e à escalada de tarifas liderada por potências como os Estados Unidos. Segundo a economista, esse movimento já impacta fortemente os mercados e as projeções de crescimento global. O foco excessivo nas políticas americanas — com destaque para o possível retorno de Donald Trump ao poder — pode obscurecer o fato de que outros países, como China, Índia e Arábia Saudita, estão emergindo como grandes vencedores desse realinhamento geopolítico. Para o Brasil, cuja exposição comercial aos EUA é limitada, há até margem para benefícios pontuais.
Inteligência artificial além do setor tech
Questionada sobre os impactos da inteligência artificial (IA) em setores não tecnológicos, Crow identificou uma adoção desigual, com ganhos mais evidentes em funções de baixa complexidade, como atendimento ao cliente. “O setor de saúde, por exemplo, tem um enorme potencial de transformação com a IA, seja no desenvolvimento de medicamentos, seja na redução de custos operacionais”, destacou. Ainda assim, muitos CFOs estão adotando uma postura de cautela, aguardando sinais mais claros sobre o retorno dos investimentos e a estabilidade do custo de capital, especialmente em ambientes de juros elevados, como o brasileiro.
Crédito privado e risco sistêmico
Um dos pontos mais sensíveis da conversa girou em torno da expansão do mercado de crédito privado, que vem crescendo cerca de 20% ao ano e pode atingir até US$ 40 trilhões nos próximos anos. “O problema é que muitas dessas operações ocorrem fora do alcance dos órgãos reguladores”, alertou. O ingresso de investidores de varejo nesse segmento acende um sinal de alerta, pois há risco de saídas em massa em momentos de stress de mercado. Embora esse fenômeno seja mais evidente na América do Norte e Europa, Crow vê oportunidades para o Brasil, que ainda está em estágio inicial nesse mercado.
Brasil: entre a preocupação fiscal e a economia prateada
A economista também comentou sobre a conjuntura brasileira, com destaque para o impacto da dívida pública na confiança dos investidores. “A desvalorização do real e a inflação pressionada afetam diretamente o consumo das famílias”, explicou. Por outro lado, destacou uma tendência positiva: o crescimento da chamada economia prateada. Inspirando-se em políticas adotadas pelo Japão, Crow sugeriu que o Brasil poderia se beneficiar ao integrar pessoas com mais de 50 anos de forma mais ativa à força de trabalho, aproveitando a longevidade crescente da população.
A mensagem final da economista da PwC é clara: vivemos um momento de inflexão. Em meio à volatilidade global e à transformação tecnológica, empresas e governos precisam recalibrar alianças, revisar modelos de negócios e buscar novas formas de criar valor — sempre com o olhar atento para riscos e oportunidades que não estavam no radar há uma década.
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