CNBC
Chip da AMD. Empresas de chips vão distribuir parte dos lucros ao governo do EUA

CNBCÍndia aposta US$ 18 bilhões para virar potência em chips; o que isso significa?

Mundo

Índia aposta US$ 18 bilhões para virar potência em chips; o que isso significa?

Publicado 22/09/2025 • 21:56 | Atualizado há 3 horas

KEY POINTS

  • Dez projetos de semicondutores estão em andamento em seis estados na Índia, com investimento total de US$ 18,2 bilhões (R$ 97,17 bilhões).
  • O país quer reduzir a dependência de importações, garantir chips para áreas estratégicas e abocanhar uma fatia maior do mercado global de eletrônicos, que está se afastando da China.
  • Mas especialistas dizem que nem o investimento, nem o número de profissionais qualificados são suficientes para transformar o sonho da Índia em realidade.
Chip da AMD. Empresas de chips vão distribuir parte dos lucros ao governo do EUA

Chip da AMD. Empresas de chips vão distribuir parte dos lucros ao governo do EUA

Unsplash

A Índia quer se tornar uma gigante mundial dos chips, mas o caminho é complicado: a concorrência é pesada e o país chegou tarde na corrida pelos semicondutores mais avançados.

Em 2022, quando os Estados Unidos proibiram a exportação de chips de inteligência artificial de ponta para a China, a fim de limitar o acesso de Pequim à tecnologia de última geração, começou uma corrida global pela autossuficiência em semicondutores.

Para a Índia, isso virou uma oportunidade: o país quer diminuir a dependência das importações, garantir chips para setores estratégicos e ganhar espaço no mercado de eletrônicos, que está mudando de rota e deixando a China de lado.

A ambição da Índia no mercado de semicondutores

A Índia é um dos maiores consumidores de eletrônicos do mundo, mas não tem uma indústria local de chips e sua participação na cadeia global é mínima. A Missão dos Semicondutores, do governo de Nova Délhi, busca mudar esse cenário.

A ambição é grande: criar toda a cadeia de produção de chips — do design à fabricação, passando por testes e embalagem — no próprio país.

Até este mês, foram aprovados dez projetos de semicondutores, com investimento total de 1,6 trilhão de rúpias (US$ 18,2 bilhões, ou R$ 97,17 bilhões). Entre eles estão duas fábricas de chips e várias plantas de teste e embalagem.

A Índia também conta com um grande número de engenheiros, que já trabalham em empresas globais de design de chips.

Mesmo assim, os avanços têm sido irregulares, e especialistas afirmam que nem os investimentos, nem a mão de obra disponível bastam para tirar o sonho dos chips do papel.

“A Índia precisa de mais do que algumas fábricas ou centros de teste e embalagem (mais do que alguns ‘elefantes brancos’). É necessário um ecossistema dinâmico, profundo e de longo prazo”, diz Stephen Ezell, vice-presidente de inovação global da Information Technology and Innovation Foundation (ITIF), think tank de ciência e tecnologia.

Ezell explica que as grandes fabricantes de chips analisam “até 500 fatores diferentes” antes de investir bilhões em uma fábrica. Entre eles estão mão de obra qualificada, impostos, políticas comerciais e ambientais, além de infraestrutura robusta.de tecnologia, custos e leis trabalhistas e regras de importação e exportação — todas áreas nas quais a Índia ainda precisa avançar.

Leia mais:
Esposa e empresa da família de Alexandre de Moraes são sancionadas pelos EUA sob a Lei Magnitsky
Governo, STF e Moraes reagem a sanções dos EUA contra família do ministro: ‘profunda indignação’
Contra ‘censura’ e ‘agentes malignos’: secretários dos EUA defendem sanções à esposa de Moraes

Nova política de Nova Délhi

Em maio, o governo indiano deu mais um passo na sua meta com um novo programa para apoiar a fabricação de componentes eletrônicos, mirando um gargalo importante.

Até agora, os fabricantes de chips não tinham demanda interna, já que quase não existiam empresas indianas de componentes eletrônicos, como câmeras de celular, por exemplo.

Mas a nova política oferece apoio financeiro para empresas que produzem componentes ativos e passivos, criando uma possível rede de compradores e fornecedores dentro do país, na qual as fabricantes de chips podem se encaixar.

Em 2022, o país também mudou a estratégia de dar incentivos maiores para fábricas que produzem chips de 28nm ou menos. Quanto menor o chip, maior o desempenho e a eficiência energética, permitindo o uso em tecnologias avançadas, como IA e computação quântica.

Mas essa abordagem não estava ajudando a indústria de semicondutores da Índia a decolar. Por isso, agora o governo cobre 50% do custo de qualquer fábrica de chips, independentemente do tamanho, e também de unidades de teste e embalagem.

Empresas de Taiwan e do Reino Unido na área de fabricação, além de companhias dos EUA e da Coreia do Sul focadas em embalagem, já demonstraram interesse em apoiar a Índia nessa jornada.

“O governo indiano ofereceu incentivos generosos para atrair fabricantes de chips”, diz Stephen Ezell, mas ele ressalta: “esse tipo de investimento não é sustentável para sempre”.

Projetos e desafios na produção de semicondutores

O maior projeto de chips da Índia hoje é a fábrica em Gujarat, estado natal do primeiro-ministro Narendra Modi, construída pela Tata Electronics em parceria com a Powerchip Semiconductor Manufacturing Corp., de Taiwan. O investimento chega a 910 bilhões de rúpias (US$ 11 bilhões, ou R$ 58,70 bilhões).

Essa unidade vai produzir chips para circuitos integrados de gerenciamento de energia, drivers de tela, microcontroladores e lógica de computação de alto desempenho, aplicáveis em IA, setor automotivo, informática e armazenamento de dados.

A fabricante britânica Clas-SiC Wafer Fab também fechou parceria com a indiana SiCSem para instalar a primeira fábrica comercial de semicondutores compostos do país, no estado de Odisha, no leste.

Segundo comunicado do governo, esses semicondutores compostos podem ser usados em mísseis, equipamentos de defesa, veículos elétricos, eletrodomésticos e inversores solares.

“Os próximos 3 a 4 anos serão decisivos para avançar os objetivos da Índia nos semicondutores”, afirma Sujay Shetty, diretor da PwC Índia.

Montar fábricas de chips funcionando de verdade e superar obstáculos técnicos e de infraestrutura que vão além dos incentivos financeiros será um passo fundamental, segundo Shetty.

Oportunidades além da fabricação

As fábricas precisam atender exigências rigorosas, como estar em áreas livres de enchentes e vibrações e contar com boas estradas — desafios logísticos que podem complicar a vida em algumas regiões.

A Índia também precisa de fornecedores de produtos químicos especiais que atendam “padrões de pureza altíssimos, essenciais para a fabricação de semicondutores avançados”, completa Shetty.

Fora as fábricas de chips, várias empresas médias indianas estão interessadas em abrir unidades de teste e embalagem. Diversos grupos locais estão entrando nesse setor, atraídos pelas margens maiores e pelo investimento inicial menor em comparação às fábricas de chips.

“O setor de montagem e testes terceirizados de semicondutores (OSAT) representa uma grande oportunidade para a Índia, mas é fundamental organizar o acesso ao mercado e os canais de demanda para garantir crescimento sustentável”, diz Shetty.

Se der certo, a Índia entra de vez para a indústria global de chips. Mas Nova Délhi ainda está longe de desenvolver e fabricar localmente semicondutores de última geração, como os chips de 2nm.

Esse tipo de chip tem desempenho e eficiência energética ainda melhores por serem menores. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Corporation (TSMC) vai começar a produção em massa desses semicondutores de ponta ainda este ano.

Na semana passada, o ministro indiano Ashwini Vaishnaw, em visita a Bengaluru para inaugurar um novo escritório da ARM, empresa britânica de design de semicondutores, disse que a companhia vai projetar “os chips mais avançados usados em servidores de IA, drones e celulares de 2nm” a partir do sul da Índia.

Mas especialistas afirmam que o papel dos profissionais locais deve se limitar ao teste e validação de design, já que a propriedade intelectual central dos chips costuma estar em lugares como Estados Unidos ou Singapura, onde há proteção legal consolidada.

“A Índia tem talento de sobra na área de design, porque, ao contrário da fabricação e testes de semicondutores, que são novidade dos últimos 2 anos, design já existe por aqui desde os anos 1990”, diz Jayanth BR, recrutador com mais de 15 anos de experiência no setor.

Ele explica que as multinacionais normalmente terceirizam para a Índia tarefas de validação de design em nível de bloco.

Avançar além disso é um desafio que o governo indiano vai precisar enfrentar se quiser realizar seu sonho dos semicondutores.

“A Índia deveria pensar em atualizar suas leis de propriedade intelectual para abranger novas formas, como conteúdo digital e software. E, claro, melhorar os mecanismos de fiscalização seria um passo importante para proteger esses direitos”, diz Sajai Singh, sócio do escritório JSA Advocates & Solicitors, de Mumbai.

“Nossa concorrência é com países como Estados Unidos, Europa e Taiwan, que têm leis de propriedade intelectual fortes e um ecossistema de design de chips muito mais estruturado.”

📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:


🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais

🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562

🔷 ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube

🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC no

Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.

MAIS EM Mundo