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Quando a IA Deixa de Ser Ferramenta e se Torna Colega: O Novo Inconsciente das Organizações
Publicado 30/11/2025 • 11:39 | Atualizado há 1 dia
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Publicado 30/11/2025 • 11:39 | Atualizado há 1 dia
AI washing.
Inteligência Artificial deve afetar desde as formas como os jogos são desenvolvidos até os truques para completar fases.
Há momentos na vida corporativa em que uma tecnologia deixa de ser um recurso e se torna uma condição do trabalho. A IA generativa inaugurou exatamente esse ponto de virada. Não estamos apenas automatizando atividades; estamos transformando a maneira como pensamos, decidimos e nos relacionamos no ambiente profissional. O que antes era visto como ferramenta passa a ocupar o lugar de um “outro” — um parceiro cognitivo com o qual dialogamos, discordamos e co-produzimos sentido.
Essa transição é detalhada com precisão no HBR Guide to Generative AI for Managers, que mostra que a mudança não é apenas técnica, mas simbólica, emocional e estrutural. O guia revela, de forma direta, como a IA sai da periferia da gestão e se torna elemento central do processo decisório — não como substituta do humano, mas como presença que o reorganiza.
O guia apresenta uma distinção que já deveria fazer parte da gramática executiva: a diferença entre a IA aplicada como Co-Pilot e como Co-Thinker.
No modo Co-Pilot, a IA executa com precisão quase industrial. Ela escreve relatórios, sintetiza documentos, prepara apresentações e organiza fragmentos dispersos em narrativas compreensíveis. O gestor sente como se tivesse ganhado uma extensão cognitiva — rápida, disciplinada e isenta de fadiga.
Mas é no modo Co-Thinker que a verdadeira ruptura acontece. Aqui, a IA se torna interlocutora. Ela devolve perguntas, provoca reflexão, tensiona premissas, sugere caminhos inexplorados. Funciona como um espelho intelectual, revelando a arquitetura dos nossos raciocínios — inclusive suas zonas frágeis.
Nesse deslocamento, a tecnologia não substitui o pensamento humano. Ela o amplia, desloca e desafia. E, como mostram as perspectivas psicodinâmicas, é precisamente nesse desafio que emergem angústias, resistências e mecanismos defensivos típicos da vida organizacional.
Com o avanço da IA generativa, a função da liderança torna-se menos operacional e mais interpretativa. Cabe ao gestor selecionar alternativas, dar forma às ideias produzidas com apoio da IA e sustentar coerência em ambientes marcados por fluidez, incerteza e volatilidade.
Vivemos aquilo que a sociologia contemporânea chama de mundo líquido, no qual certezas evaporam e as possibilidades se multiplicam. A IA não oferece respostas finais; oferece possibilidades em série. Diante disso, o gestor torna-se um curador de sentido. Não basta mais coordenar atividades. É necessário coordenar inteligências — humanas e artificiais — dentro de uma narrativa comum.
Isso exige pensamento crítico, autoconsciência, capacidade de revisão e sensibilidade para compreender o impacto emocional que a tecnologia exerce sobre as equipes. Não é um desafio técnico. É um desafio humano.
O guia expõe um ponto que aparece com nitidez no contexto brasileiro: o maior risco não está em confiar demais na IA, mas em evitá-la. Em muitas empresas, a IA generativa é usada de forma superficial, tímida, quase decorativa — como se seu potencial fosse perigoso demais para ser explorado.
Essa resistência não costuma ser lógica. É defensiva. Tecnologias que questionam identidades, status e formas tradicionais de autoridade provocam receio. A IA redistribui competências cognitivas, democratiza o acesso ao raciocínio sofisticado e reduz a dependência de habilidades que sustentaram carreiras inteiras.
Por isso, ela gera tensões inconscientes. E, como todo mecanismo de defesa, evitar a IA não elimina o desconforto — apenas paralisa o desenvolvimento.
Quando a IA assume parte do trabalho operacional, ela devolve ao gestor algo raro: tempo de qualidade. Esse tempo, como mostram as leituras de Morin e Enriquez, não é apenas produtivo; é psíquico. Ele abre espaço para o pensamento estratégico, reduz a pressão difusa e permite que a liderança volte à sua função mais nobre: decidir, conectar, imaginar.
O guia mostra que a IA melhora não apenas o resultado final, mas o próprio processo interno que conduz às decisões. Ao ajudar a organizar ideias, estruturar raciocínios e explorar narrativas, ela reduz o ruído mental que acompanha o trabalho executivo. Em vez de saturar a mente, ela a descomprime.
No Brasil, onde organizações costumam operar sob alta ambiguidade, estruturas pesadas e vínculos informais, a IA generativa chega como oportunidade dupla: reorganizar processos e reorganizar sentidos. Ela revela inércias, escancara tensões e ilumina zonas de ambiguidade que costumam permanecer ocultas.
A IA não resolve falhas humanas.
Mas as torna visíveis.
E aquilo que se torna visível pode, enfim, ser transformado.
O guia deixa claro que a questão central não é o que a IA pode fazer. A pergunta mais profunda — e mais incômoda — é outra:
O que o gestor fará agora que precisa pensar com uma inteligência que o provoca, desafia e complementa?
Essa pergunta inaugura uma nova forma de liderança: mais reflexiva, mais consciente, mais capaz de lidar com a complexidade e, sobretudo, mais preparada para navegar o inconsciente organizacional que a IA, com sua presença silenciosa, destabiliza e revela.
A IA generativa não transforma apenas o trabalho.
Ela transforma o trabalhador.
E, ao fazê-lo, transforma a organização.
Esse é o futuro que já começou — e que ninguém mais pode adiar.
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