Por que a ambição de Lagarde em relação ao euro pode ser uma ameaça ao “Rei Dólar”
Publicado 30/05/2025 • 12:22 | Atualizado há 4 dias
Publicado 30/05/2025 • 12:22 | Atualizado há 4 dias
KEY POINTS
Notas de euro e dólar.
Unsplash
O regime tarifário do presidente dos EUA, Donald Trump, provocou volatilidade nos ativos americanos — e as autoridades europeias não escondem o desejo de que o euro aproveite a confiança vacilante no dólar americano.
O dólar é a moeda de reserva mais comumente mantida no mundo, representando quase 60% das reservas cambiais globais e desempenhando um papel importante na negociação de ativos como petróleo e ouro. Também atua como lastro para moedas como o dólar de Hong Kong e o rial saudita.
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Em segundo lugar, muito atrás do dólar americano, está o euro, que representa cerca de 20% das reservas cambiais internacionais.
O índice do dólar — que mede a moeda americana em relação a uma cesta de principais rivais — caiu mais de 8% desde o início do ano. Esta semana, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou que a mudança no cenário geopolítico que impulsionou essas mudanças deu às autoridades europeias a oportunidade de elevar o status do euro.
“A cooperação multilateral está sendo substituída pelo pensamento de soma zero e por jogos de poder bilaterais”, disse ela na segunda-feira (26), em um discurso na Escola Hertie, em Berlim. “Há até mesmo incerteza sobre a pedra angular do sistema: o papel dominante do dólar americano.”
Isso, disse ela, poderia “abrir caminho para o euro desempenhar um papel internacional mais relevante”.
Fechar essa lacuna estava “longe de ser garantido”, observou Lagarde em seu discurso, sugerindo, ainda assim, que a moeda europeia poderia “ganhar” maior influência global com a combinação correta de políticas.
“Primeiro, a Europa deve garantir uma base geopolítica sólida e confiável, mantendo um compromisso firme com a abertura comercial e apoiando-a com capacidades de segurança”, disse ela.
“Segundo, devemos reforçar nossa base econômica para tornar a Europa um destino de destaque para o capital global, possibilitado por mercados de capitais mais profundos e líquidos. Terceiro, devemos fortalecer nossa base jurídica defendendo o Estado de Direito — e nos unindo politicamente para que possamos resistir às pressões externas.”
Um euro com status de moeda de reserva elevado traria uma série de benefícios para a Europa, acrescentou Lagarde, incluindo menores custos de empréstimos para governos regionais, isolamento da volatilidade cambial e proteções para a Europa contra sanções “ou outras medidas coercitivas”.
“Em suma, permitiria à Europa controlar melhor seu próprio destino”, acrescentou Lagarde.
Ela não é a única autoridade do BCE a elogiar as possibilidades do euro, já que a confiança nos EUA está em declínio. Na semana passada, Isabel Schnabel, membro do Conselho Executivo do banco central, disse que a zona do euro poderia se tornar um porto seguro com a consolidação das políticas tarifárias de Trump — dando à região “uma oportunidade histórica de fomentar o papel internacional do euro”.
Observadores do mercado que conversaram com a CNBC estavam divididos sobre o potencial do euro de tomar parte da participação do dólar nas reservas cambiais globais.
Em entrevista ao programa “Europe Early Edition” da CNBC na sexta-feira (30), George Buckley, economista-chefe para a Europa da Nomura, afirmou que enxerga potencial de alta para o euro, com os investidores buscando diversificar suas posições além do dólar.
Questionado se concordava com a avaliação de Lagarde sobre o potencial da moeda, Buckley respondeu: “Certamente, até certo ponto”.
“O dólar ainda é a maior moeda de reserva do mundo… o euro continua em um distante segundo lugar, mas está ganhando impulso significativamente com tudo o que está acontecendo nos EUA”, disse ele. “Acho que, com certeza, haverá muito mais interesse.”
Buckley disse estar vendo indícios de que, no cenário atual, os investidores podem querer alocar seus fundos em outros ativos além do dólar.
“Se eles estão pensando em abandonar o dólar, o euro é uma escolha óbvia”, disse ele à CNBC. “É um enorme bloco comercial, e claramente o euro está se beneficiando disso. Acreditamos que o euro possa subir para cerca de US$ 1,20 até o final do ano.”
O euro estava sendo negociado a cerca de US$ 1,13 na manhã de sexta-feira (30). Desde o início do ano, a moeda se valorizou mais de 9% em relação ao dólar americano — uma alta para US$ 1,20 representaria um salto adicional de cerca de 6% em relação aos preços atuais.
Embora Buckley estivesse otimista quanto às perspectivas para o euro, Aaron Hill, analista-chefe de mercado da FP Markets, disse à CNBC que o domínio do dólar “continua formidável”.
“O euro, embora apoiado pelo peso econômico substancial da União Europeia, enfrenta obstáculos significativos”, disse ele. “A fragmentação política entre os Estados-membros e a dependência das estruturas de segurança dos EUA limitam sua influência global.”
Hill acrescentou que as limitações do euro dificilmente desaparecerão tão cedo.
“Embora o aumento da dívida americana e a mudança nas alianças globais justifiquem um exame minucioso, o euro carece da coesão e do alcance necessários para desafiar a supremacia do dólar no curto prazo”, disse ele à CNBC. “Por enquanto, o reinado do dólar permanece inabalável.”
Na terça-feira (27), John Plassard, especialista sênior em investimentos do Mirabaud Group, disse ao programa “Europe Early Edition” da CNBC que, com o dólar americano ainda representando quase 60% das reservas cambiais globais, não havia “concorrência para o dólar americano” no momento.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
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