Esta história faz parte da série The Moment da CNBC Make It, onde pessoas altamente bem-sucedidas revelam o momento crítico que mudou a trajetória de suas vidas e carreiras, discutindo o que as motivou a dar o salto para o desconhecido.
Quando o Walmart se aproximou de Andy Dunn para comprar sua varejista online de roupas Bonobos por US$ 310 milhões em 2017, Dunn tinha um segredo.
O cofundador e então-CEO da Bonobos foi diagnosticado com transtorno bipolar aos 20 anos. Ele manteve isso em segredo por quase duas décadas, acreditando que ninguém iria querer trabalhar para ele ou apoiar financeiramente sua empresa se soubessem e permaneceu majoritariamente sem tratamento até 2016, quando uma crise psicótica o levou a um hospital psiquiátrico enfrentando acusações de agressão.
As acusações foram rapidamente retiradas, então a prisão de Dunn não era de conhecimento público na época. Ainda assim, isso o chocou e o impulsionou a agir, ele diz: passou o ano seguinte testando diferentes medicamentos e adotando hábitos mais saudáveis, como dormir mais, meditar e frequentar terapia duas vezes por semana.
“Eu pensei que poderia perder tudo,” diz Dunn, agora com 46 anos. “Meu trabalho, minha liberdade, minha reputação, minha namorada.”
A oferta do Walmart daria à Bonobos os recursos para continuar crescendo, criando liquidez para os acionistas e permitindo que Dunn mantivesse o controle da empresa, como ele disse ao Vox na época. Mas qualquer aquisição provavelmente acionaria verificações de antecedentes.
A revelação de sua prisão poderia matar o negócio, temia ele, e comprometer seu papel à frente de uma empresa que ele havia levado a mais de US$ 100 milhões em receita anual.
Dunn enfrentou duas opções: recusar a lucrativa oferta de aquisição, que ele via como o melhor caminho para o crescimento da Bonobos, ou abordar seu diagnóstico de frente com o Walmart.
A última opção era “assustadora,” ele diz, mas ele a escolheu assim mesmo em parte para dar exemplo a outros empreendedores, sendo mais propensos a enfrentar problemas de saúde mental do que outras pessoas, segundo pesquisas.
A abordagem de transparência funcionou. Após algumas semanas de muita tensão, o negócio seguiu adiante, e Dunn passou três anos no Walmart antes de deixar a empresa em 2020 para lançar a startup de mídias sociais Pie. (Um porta-voz de Dunn se recusou a confirmar quanto dinheiro o cofundador da Bonobos recebeu da venda para o Walmart.)
Dunn ainda atua como conselheiro da Bonobos, que o Walmart vendeu para a WHP Global e Express por US$ 75 milhões em 2023. No final, seu colapso realmente mudou sua vida, ele diz, mas não da forma que temia. “É tão estranho que a pior coisa de todas seja agora a melhor coisa,” diz ele.
Aqui, Dunn fala sobre por que decidiu ser honesto e aberto durante o processo de aquisição da Bonobos, as semanas tensas que se seguiram, e como equilibrar a paixão empreendedora com a objetividade necessária para tomar boas decisões.
CNBC Make It: Quando o Walmart mostrou interesse na aquisição, você pensou imediatamente em ter que divulgar seu histórico de prisão e diagnóstico de transtorno bipolar?
Dunn: Foi uma situação muito desafiadora. Tínhamos um negócio de US$ 300 milhões na mesa. Eu sabia que haveria verificações de antecedentes, e sabia que havia esse registro policial circulando. E eu não queria que fosse algo que os surpreendesse.
Então, a questão era: quando você diz algo? E minha resposta foi: diga o mais tarde possível, sem comprometer a confiança.
Eu voei para Bentonville (onde o Walmart está sediado) e passei um tempo conhecendo toda a equipe executiva, porque eu queria que todos me conhecessem antes que isso surgisse. A maioria dos termos já tinha sido negociada. Havia um papel muito convincente que tinha sido criado para mim.
Mas o que acontece quando, literalmente no ano anterior, fui preso e acusado de agressão grave? Foi uma coisa assustadora de se falar. Mas também senti que precisamos caminhar para um mundo onde condições de saúde mental não nos impedem profissionalmente.
Como você contou para a equipe executiva do Walmart?
Eu disse ao chefe de RH: “Ei, quando vocês fizerem a minha verificação de antecedentes, vão encontrar esse registro de prisão. Quando eu tinha 20 anos, fui diagnosticado com transtorno bipolar e não estava lidando com isso. Tive uma grande crise no ano passado. E, infelizmente, fui preso por causa disso.” Expliquei que todas as acusações foram retiradas.
Ela ficou muito pálida. Ela não esperava por isso, né? Mas, a coisa boa que ela disse foi: “Eu entendo. Vou falar com o Doug (McMillon, CEO do Walmart) e a gente te retorna.”
Enviei meus registros psiquiátricos e então passei algumas semanas me perguntando o que aconteceria. Eles voltaram e disseram: “Ei, vimos seu tratamento. Vimos que você está se cuidando. Entendemos que você tem alta psiquiátrica limpa. E estamos empolgados para seguir com a transação.”
Foi um dia mágico. Quão tensa foi a espera por semanas para o destino do negócio e seu papel na empresa?
Foi muito tenso, em parte porque o destino de tantas outras pessoas parecia estar ligado a isso. Eu sentia que muitas pessoas [incluindo todos os funcionários e investidores da Bonobos] tinham um interesse nisso, e essa coisa que aconteceu comigo poderia comprometer isso.
Isso é muito para carregar, para sentir. E também para pensar: Não é minha culpa, mas é meio que minha culpa, porque não lidei com isso quando fui diagnosticado.
Qual é o melhor conselho que você pode dar — para qualquer pessoa — sobre compartilhar suas dificuldades de saúde mental com outras pessoas, especialmente se estiverem nervosos com isso?
Ninguém se importa, no melhor sentido.
Se tivermos sorte na vida, temos cinco pessoas que realmente se importam conosco: nossos pais, talvez um parceiro, alguns amigos. Ninguém mais está pensando em você todos os dias.
Quando você compartilha algo que parece privado, é um grande problema para você, porque você pensa: “Isso vai mudar como eles pensam sobre mim.” Mas a verdade é que eles não estão pensando em você quase nunca, exceto quando estão com você.
Há esse paradoxo de que a coisa que você não quer mais dizer é exatamente a coisa que você deve dizer, se o que você se importa é conexão humana. E se pudermos usar os momentos em que estamos com os outros para ser sinceros, e divulgar coisas que normalmente não seriam divulgadas?
E o legal da divulgação é: ela convida à divulgação recíproca. É um convite para que a outra pessoa se desabafe mais tarde.
Sua definição de sucesso mudou desde o lançamento da Bonobos ou até mesmo desde a aquisição pelo Walmart?
Quando estava construindo a Bonobos, era a coisa mais importante para mim. Parecia uma questão de vida ou morte. Era a fonte da minha identidade, uma fonte de grande insegurança.
Quando meu filho nasceu [em 2020], senti que passei de ser o sol para um planeta, do centro do meu universo para orbitar alguém mais importante. Agora, a Pie é importante para mim, mas não é tão importante quanto o Isaiah.
Ouvi de outros empreendedores que o momento mais fácil de ser um empreendedor na vida deles foi quando eram pais, porque você tem essa fronteira embutida com algo mais com o qual precisa se preocupar. Isso cria perspectiva. Eu simplesmente fico menos emocional.
Muita paixão é necessária para administrar um negócio. Mas a objetividade e não ser excessivamente empático, na verdade, levam a decisões mais eficientes e, no final, a melhores resultados.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
